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15/01/2016

Cautela deve nortear estratégias da indústria de madeira do Brasil

Apesar do dólar atrativo, fabricantes devem ficar atentos ao aumento da oferta de produtos e custos de produção.
Recomendação é focar em qualidade, certificações e abertura de novos mercados em 2016

Dólar valorizado, retomada da economia norte-americana e da Europa. Tais notícias, em outros períodos, seriam comemorados pela indústria da madeira brasileira. Mas na prática, 2015 teve altos e baixos entre os diferentes segmentos de produtos de madeira processada mecanicamente, já que uma série de outros fatores afetaram a competitividade dos fabricantes: aumento de custos internos, excesso de produção mundial, queda do preço em dólar, redução do PIB chinês e diminuição do consumo por alguns produtos. Mesmo assim, foi um ano “razoável” segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), José Carlos Januário.

“Não estávamos preparados para as surpresas de 2015 como a redução do mercado interno, por exemplo, que gerou uma super oferta de produtos para o exterior, somada à elevação do custo de energia e atual crise econômica e política pela qual passa o Brasil”, afirma Januário. Na avaliação do presidente, será preciso, neste ano, ter mais cautela. “Devemos investir na melhoria da qualidade e nas certificações para estar em mercados mais exigentes e encontrar outros nichos para garantir um melhor preço. O departamento comercial das indústrias precisará vender os produtos e não apenas ser comprado”, afirma.

Essa também é a visão do coordenador do Comitê de Laminado e Compensado de Pinus da Abimci, Fabiano Sangali. “Este será um ano de muito trabalho para os departamentos comerciais das empresas. Terão que usar todos os seus recursos para manter volumes de pedidos”, sugere.

Na opinião de Sangali, em 2016, a tendência é que o setor se volte ainda mais para o mercado internacional, porque não há perspectivas de retomada da construção civil brasileira. Em 2015, foram embarcados pouco mais 1,4 milhão de m³ de compensado de pinus, um aumento de 13,9% em relação ao ano anterior. “Temos a vantagem de ter um produto de qualidade – que atende normas internacionais – e com preço acessível para os compradores estrangeiros. Devemos manter o volume exportado com um pequeno crescimento para mercados diferentes dos tradicionais. Podemos, inclusive, vender para a China, país onde nunca imaginamos que seria possível colocar compensado de pinus”, diz.

Mercado internacional

Um dos segmentos de madeira que obteve bons resultados em 2015 graças à exportação e ao câmbio, foi o de pisos maciços, com um aumento de 18% do volume exportado, quando comparado a 2014. Mas, segundo o coordenador do Comitê de Pisos e Madeira Tropical da Abimci, Douglas Granemann, ainda é possível melhorar essa performance, já que 50% do volume enviado para fora vai para os Estados Unidos. De acordo com o coordenador, diferente de outros países como Peru, México e Indonésia, o Brasil não efetuou nenhum acordo bilateral com os maiores mercados consumidores, com isso os pisos de madeira produzidos por aqui já partem com uma desvantagem. Além disso, ele lembra que, durante os anos de Real sobrevalorizado, esse segmento perdeu mercado para outros países, principalmente para os asiáticos. “Hoje o Brasil não é visto mais como uma referência para compradores estrangeiros quando se trata de pisos”, afirma. E espaço para atuar não falta. O mercado latino-americano, por exemplo, é apontado por Granemann como de grande potencial de crescimento para os fabricantes de pisos.

Já os produtores de madeira serrada de pinus, registraram um aumento de 31,4 % em relação ao volume físico embarcado em 2014, alcançando, em 2015, 1.304.305 m³. Segundo a Abimci, o crescimento se deve, entre outros fatores, a uma significativa melhora do processo produtivo nacional com investimentos que permitiram aumentar a capacidade de escala da produção. “É possível melhorarmos esses números, frente ao potencial que temos”, afirma o presidente da entidade. O maior volume desse produto ainda é consumido no mercado interno, principalmente na construção civil.

Outro segmento que aumentou o volume exportado foi o de portas, com 8% a mais, comparado a 2014, mantendo a média de embarques registrados nos últimos anos. Os Estados Unidos respondem por 65 % das exportações nacionais, fato que indica a possibilidade de ampliar os mercados de atuação de um segmento que vem investindo fortemente em normalização, por meio do Programa Setorial da Qualidade de Portas de Madeira para Edificações (PSQ-PME), da Abimci.

Oferta em alta

Para os produtores de compensado plastificado, o ano de 2015 foi menos positivo. Segundo o coordenador Comitê de Compensado Plastificado, Walter Reichert, alguns fabricantes reduziram os preços na moeda estrangeira e, mesmo assim, as vendas não se mantiveram. Entre as causas desse cenário fatores como queda na demanda mundial por esse produto, os problemas enfrentados pelo Oriente Médio com a crise do petróleo e as guerras, a desvalorização da moeda russa nos últimos dois anos, além da grande oferta de produtos da China com preço baixo e boa qualidade. “Tivemos uma redução de 50% das vendas de compensado plastificado brasileiro para o exterior. Perdemos competitividade. Hoje as exportações para a Europa estão perto de zero. Onde ainda temos espaço é nos países do Mercosul, Caribe e África”, afirma. Além disso, o consumo interno também sofreu com a redução da demanda da construção civil e um excesso de produção.

Para 2016, segundo Reichert, será preciso equalizar produção e demanda. “Hoje estamos produzindo com 60% da capacidade instalada. Seria preciso reduzir ainda mais para garantir a permanência das empresas no mercado”, afirma.

Quem também tem sido afetado pelo excesso de oferta de produtos mundial são os produtores de laminados e compensados de madeira tropical. “Apesar do dólar valorizado, os preços estão em queda, porque há muita oferta”, explica o coordenador do Comitê para esse segmento dentro da Abimci, Paulo Cavalcanti Neto. Mesmo assim, o segmento registrou aumento das exportações em 58% em relação ao embarcado em 2014, mas em cima de um volume muito pequeno para o potencial brasileiro, segundo o especialista. “Saímos de apenas 26.696 m³ exportados em 2014 para 42.192 m³ embarcados em 2015”, afirma o coordenador.

A expectativa de Neto é que em 2016 seja possível acessar outros mercados. Mas avaliza a opinião do presidente da Abimci: “será preciso muita cautela frente às indefinições políticas e econômicas do país”.

Mercado interno e custo-Brasil são gargalos para indústria crescer

O aquecimento da construção civil no Brasil havia dado um novo fôlego para os fabricantes de produtos de madeira que tentavam se recuperar do baque que a crise americana de 2008 provocou num setor altamente exportador. Mas no último ano, os reflexos negativos das medidas econômicas e políticas atingiu em cheio o mercado da construção. “O ano de 2015 foi até agora o pior dos últimos cinco. Demanda retraída no mercado interno e turbulência externa no câmbio contribuíram para uma estagnação das vendas dos produtos de madeira de maior valor agregado”, afirma o coordenador do Comitê de Produtos de Maior Valor Agregado e Madeira de Pinus, Fernando Carlotto Gnoatto.

“O Brasil está se tornando muito caro para produzir: inflação, preço dos combustíveis, falta de estrutura em logística são fatores primordiais para um país ser competitivo. Precisamos fazer a lição de casa, reduzir custo internos para sobreviver”, desabafa Gnoatto.

Outro nicho que também sentiu os efeitos da crise brasileira foi o de laminados e compensados de madeira tropical. De acordo com o coordenador Paulo Cavalcanti Neto, em 2015 houve uma redução de 40% nas vendas para o mercado nacional.

Já os fabricantes de pisos de madeira tiveram uma queda de 35% no mercado interno e devem permanecer cautelosos até que haja definições no rumo do pais, acredita o coordenador do Comitê de Pisos e Madeira Tropical, Douglas Granemann. “Fatores internos como altos custos de insumos e mão de obra, quando comparados a outros países, afetam a competitividade dos nossos negócios. Hoje o Brasil tem um dos maiores custos de energia e transportes do mundo”, completa.

E mesmo quem prevê um crescimento nas vendas, como o segmento de compensado de pinus, está em alerta. “Custos com tora, resinas e energia podem comprometer a competitividade. Alguns fabricantes já estão comprando energia no mercado livre, por exemplo, pois conseguem um valor até 40% mais barato”, conclui o coordenador Fabiano Sangali.