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02/08/2017

Construção sustentável: a vez da madeira

Associação que representa indústrias de madeira mobiliza setor para alavancar negócios no mercado interno. Trabalho passa por desenvolvimento de norma técnica, mudança de cultura e articulação política para criar iniciativas que incentivem o uso da madeira no Brasil 

Com um déficit habitacional de mais de 6 milhões de residências, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), e um mercado potencial para os próximos dez anos, o setor da construção civil brasileira está no foco da indústria de madeira. Com avanços significativos no desenvolvimento de produtos e das normas técnicas, a expectativa do setor é atender boa parte desse nicho oferecendo soluções que contribuam para o melhor desempenho das construções, garantindo vantagens como alta produtividade em sistemas construtivos industrializados, uso de produtos sustentáveis, sequestro de carbono, maior conforto acústico e térmico, entre outros.

À frente de todo esse movimento, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que há 45 anos representa o setor, lidera uma série de ações que visam ao desenvolvimento do mercado interno.

Uma das iniciativas diz respeito ao desenvolvimento de normas técnicas para os produtos de madeira usados na construção civil, bem como, mais recentemente, para o sistema construtivo wood frame.

Entidade gestora do Comitê Brasileiro da Madeira ABNT/CB-31, a Abimci atua junto às 13 comissões de estudo que compõem o Comitê. Um dos trabalhos recentes inclui a retomada da revisão da norma técnica para madeira serrada em geral, produto que representa um percentual significativo da madeira usada em obra com várias aplicabilidades. “As ações dentro do CB-31 têm como objetivo garantir uma padronização dos produtos e disponibilizar produtos conformes e normatizados, e assim, aumentar o uso da madeira na construção civil”, afirma o superintendente executivo da Abimci, Paulo Pupo.

A intenção é que a norma inclua todo o setor de madeira serrada, de coníferas a folhosas e especificadas por mercado, no que concerne a terminologia, requisitos e classificação. Esse exemplo de ação para madeira serrada também irá se repetir em outros importantes segmentos de produtos madeireiros, como compensados, painéis, pisos, portas e outros, dentro das atividades do CB-31.

CB 31

Mudança cultural

Construir com madeira é uma realidade nos principais países desenvolvidos do mundo. Uma tendência que ganha espaço até mesmo em locais sem tanta tradição, caso da Itália, onde em 1998 essas construções mal apareciam nas estatísticas e em 2009 atingiram praticamente 10%. Na Inglaterra, também no final dos anos 1990, as residências em madeira representavam apenas 2% das construções novas. Em 2007, eram 15% e, este ano, a expectativa é que atinjam 27%, conforme documento publicado pela Structural Timber Association (STA) da Inglaterra.

 Se na Europa e em países como Estados Unidos, Canadá e Chile os produtos de madeira fazem parte da indústria da construção, por que no Brasil – que detém a segunda maior área florestal do mundo, incluindo áreas plantadas e nativas, e é um tradicional exportador de produtos madeireiros para boa parte desses mercados – esse tema ainda gera tantas discussões, dúvidas e até estranhamento?

“Um dos maiores desafios, sem dúvidas, é eliminar um erro básico de conceito de que casas de madeira são construções de baixa qualidade. Esse talvez seja o maior desafio que teremos ao longo de nossa jornada para a consolidação desse sistema no Brasil. Os exemplos aplicados em alguns dos principais países do mundo com construções em madeira, em larga escala, nos provam exatamente o contrário, pois esse é um sistema que traz soluções inovadoras e sustentáveis, economicamente viáveis, e com as garantias necessárias exigidas pelo mercado”, avalia Pupo.

Pensando no aspecto cultural, uma das linhas de atuação da associação e de outras instituições envolvidas no tema, passa por estratégias de divulgação das ações em andamento para o desenvolvimento da norma do sistema wood frame, apoio a eventos da cadeia produtiva, produção de folders sobre os produtos de madeira, materiais institucionais de divulgação e compartilhamento de informações pertinentes ao setor. “O caminho é longo, pois as ações precisam andar em paralelo aos avanços técnicos e de mercado”, afirma Pupo.

Norma técnica para casas com madeira
Comissão de Estudos da ABNT prepara texto que deve ser colocado em consulta nacional ainda este ano

A principal ação na qual os setores da madeira e da construção estão envolvidos passa pelo desenvolvimento da norma técnica do sistema construtivo wood frame, que utiliza uma variedade de produtos em madeira. Desde o ano passado, com a instalação da Comissão de Estudos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), foi aprovado o escopo da norma, que pretende contemplar edificações de até dois pavimentos.

Além de estabelecer parâmetros técnicos, a norma permitirá avanços em questões relacionadas à viabilidade da utilização do sistema construtivo, como os financiamentos imobiliários. “Com isso, haverá mais recursos para a implantação de projetos, resultando também em garantias para as empresas e para os clientes e consequente aumento do consumo de madeira no mercado nacional”, avalia o superintendente da Abimci e secretário da Comissão de Estudos, Paulo Pupo.

A partir da instalação da Comissão de Estudos, foi criado um grupo de trabalho para sistematizar a força-tarefa e dar celeridade às discussões. Os coordenadores de cada tema previsto na norma – projeto, execução e desempenho – orientaram a estruturação de cada um desses pontos. Em 2017, houve evolução nas propostas para as partes Projeto e Execução da norma, abrangendo questões como requisitos gerais, componentes, projetos estruturais, projetos complementares e execução, entre outros.

Na avaliação do coordenador da CE, Euclesio Manoel Finatti, vice-presidente do Sinduscon-PR, a evolução foi grande. “Temos hoje um texto já consistente envolvendo duas partes importantes do sistema construtivo wood frame, que são a preocupação de como serão considerados os projetos e como será a execução das futuras obras neste sistema construtivo”, afirmou.

Para complementar o trabalho que vem sendo realizado, foi definida a criação de um novo grupo específico, para avaliar as informações referentes a materiais previstos para uso nesse sistema.

A expectativa dos participantes é de concluir os textos produzidos ainda este ano para que posteriormente sejam validados pelos membros da Comissão e, então, colocados para consulta nacional.

Mercado potencial

De acordo com a Abimci, todas essas ações têm como objetivo garantir uma padronização dos produtos e disponibilizar produtos conformes e normatizados, e assim, aumentar o uso da madeira na construção civil. “Será um passo importante para o aumento do consumo per capita de madeira, ou seja, criação de um mercado para a produção de madeira nacional, além de termos a possibilidade de oferecer ao país um sistema inovador e rápido, uma solução para atender a demanda e o déficit habitacional no país por moradias de interesse social”, afirma o superintendente. Segundo dados da CBIC, até 2025, o Brasil precisará ter em estoque 80 milhões de habitações.

Industrialização da construção

“O aumento da produtividade aliado aos desafios para inovação do setor são estratégicos para toda a cadeia produtiva da construção, um desafio coletivo”. A afirmação do vice-presidente da Área Técnica do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Euclesio Manoel Finatti, revela que o segmento tem tentado encontrar formas para melhorar os processos produtivos, reduzir a burocracia, melhorar a performance da mão de obra, mesmo ainda sem dois fatores decisivos para a retomada de crescimento: um ambiente institucional do país favorável e estabilidade macroeconômica.

Da parte que compete às próprias empresas, a elevação da industrialização da construção é uma das frentes de atuação necessárias. “Já não se pode mais admitir que continuemos a empilhar tijolos. A adoção de sistemas construtivos modernos, que priorizem o desempenho das construções, o menor desperdício de materiais, além de questões como qualidade de vida para as pessoas que vão residir, trabalhar ou ter atividades de lazer nesses espaços passou a ser fundamental”, afirma.

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Por Juliane Ferreira, Assessoria de Imprensa Abimci para a Revista Madeira Total