
Reino Unido e Estados Unidos, mercados estratégicos para a exportação de produtos madeireiros, são abordados no Woodtrade Brazil 2024
As tendências e oportunidades para os produtos brasileiros no Reino Unido e Estados Unidos foram apresentadas por lideranças do segmento madeireiro nesses países.
O Brasil exporta produtos de diferentes segmentos madeireiros para vários continentes e se configura como um importante player no suprimento mundial, fornecendo compensados, madeira serrada, molduras, pellets, pisos, portas, paletes, entre outros. Entre os mercados que compram percentuais importantes do volume exportado estão os Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido.
Dois desses mercados foram abordados e estavam representados durante o Woodtrade Brazil por David Hopkins, executivo chefe da Timber Development UK (Federação Inglesa da Madeira), e Brent J. McClendon, presidente e CEO da National Wooden Pallet and Container Association (NWPCA), dos EUA.
David Hopkins, à frente da Timber Development UK, que abrange desde os produtores, fornecedores, designers, até os especificadores e construtores, trouxe uma análise sobre as tendências atuais, perspectivas e oportunidades para a indústria madeireira do Brasil no contexto britânico. “O Brasil é responsável por 65% do mercado de madeira compensada do Reino Unido, por isso é muito importante para mim vir a um evento como este e conhecer os empresários brasileiros que têm os mesmos desafios que nós temos”, disse Hopkins. Também apresentou estimativas positivas para a economia daquele país, em especial a possibilidade de crescimento da construção civil para os próximos anos. “Com o novo governo, há a possibilidade do mercado crescer. A taxa de juros e a inflação já estão reduzindo”, contextualizou Hopkins.
Ele também citou que entrará em vigor, a partir de 2025, uma exigência do governo para que as residências a serem construídas sigam um padrão específico de adequação às questões de sustentabilidade. “Para cumprir essa nova regra, as construtoras precisarão de mais madeira”, acrescentou.
Segundo Hopkins, unindo o cenário de queda de inflação e as exigências impostas aos novos empreendimentos, a previsão é de que a construção civil cresça 2% em 2025 e 3,6% em 2026, o que se consolida como um ambiente promissor para as exportações brasileiras. “O nosso principal fornecedor de compensado é o Brasil, responsável por 60 a 65% do que utilizamos. E o Brasil tem muito potencial para continuar sendo o nosso maior fornecedor”, conclui.
Outro ponto abordado por Hopkins foi a EUDR. Ele explicou que os empresários britânicos compartilham as mesmas incertezas que os brasileiros em relação à nova regra europeia. “Atualmente, estamos concentrados nas regulamentações que impactam significativamente nossas empresas. Saímos da União Europeia justamente por conta de discussões como estas, e agora não temos voz na formulação das regras de desmatamento”, afirmou.
Hopkins destacou como a EUDR impacta as indústrias britânicas, mesmo sem ser aplicada diretamente no país. “A madeira que entrar no Reino Unido, ao ser transformada em móveis e comercializada, terá que seguir as normas da UE. Portanto, a regulação nos afeta da mesma forma que afetará as atividades no Brasil”, explicou. Ele ainda relatou que algumas das maiores resistências à EUDR vêm de dentro da própria UE. “Muitas serrarias europeias perceberam que terão dificuldades para comercializar os seus produtos. Por isso, consideramos que, no Reino Unido, a implementação não ocorrerá como previsto. As empresas irão adiar os prazos, tornando a execução inviável”, concluiu.
Sobre o mercado americano, o maior importador de produtos madeireiros do Brasil, Brent J. McClendon, presidente e CEO da National Wooden Pallet and Container Association (NWPCA), falou das condições atuais e das tendências de crescimento. Ele se referiu ao Woodtrade Brazil como o resultado da capacidade de mobilização das associações como a Abimci. “Este é um momento muito importante e mostra o poder das associações como a nossa e a Abimci. Nós aproximamos as pessoas, aproximamos líderes para desempenhar um papel importante para a indústria”, disse McClendon. Ele disse que aprendeu muito com os painéis dos empresários. “Esse é um dos eventos mais educativos dos quais já participei. Aprendi muito sobre o mercado americano com vocês e percebo que, todos nós que trabalhamos com molduras, portas, paletes e outros produtos, compartilhamos dos mesmos desafios”, afirmou.
A NWPCA, entidade representada por McClendon, tem membros em 40 países e, segundo ele, o trabalho da entidade se baseia na visão dos empresários. “O que fazemos é pela ótica de pessoas como vocês, que trabalham com a madeira e que reciclam a madeira”, acrescentou.
McClendon afirmou que o setor de paletes é um indicador econômico nos Estados Unidos. “Tudo é movimentado em paletes de madeira, 90% do comércio americano utiliza o palete. Aproximadamente 2 bilhões de paletes são usados por dia nos EUA e 45% da madeira serrada produzida no país é empregada na fabricação desse produto, sendo que 10% importamos do Brasil”, disse. O americano reforçou que o mercado estadunidense é uma excelente oportunidade para o produto brasileiro. “Todos os nossos membros estão consumindo um volume significativo de madeira. No Brasil há muitas oportunidades quando olhamos para normalização e a conservação, nós queremos conhecer e compartilhar boas práticas entre os países”, afirmou McClendon.
Ele ressaltou que a demanda por produtos sustentáveis e a promoção dessas práticas são questões globais, e não apenas regionais. “É essencial que vocês, no Brasil, se envolvam nas discussões sobre a EUDR e o descarte de resíduos. Nossos clientes buscam descarbonização e circularidade, e os paletes de madeira oferecem exatamente isso, com um histórico positivo de retenção de carbono. Além disso, 97% dos paletes de madeira são recuperados, em comparação aos 80% dos plásticos”, destacou McClendon. Segundo ele, com essa alta taxa de reaproveitamento, as empresas brasileiras têm uma excelente oportunidade para consolidar suas práticas ESG. “Vocês já estão no caminho certo, só precisam de mais recursos para aprimorar e divulgar suas melhores práticas”, concluiu.